Como alugar carro em viagem nacional com segurança e sem taxas extras

Direto ao Ponto:

• Locadoras podem cobrar até 12% em taxas administrativas além da diária básica
• Vistoria completa com fotos evita cobranças indevidas por danos preexistentes
• Seguros opcionais custam entre R$ 15 e R$ 30 por dia, mas podem ser essenciais
• Devolução fora do horário ou local diferente gera taxas que chegam a R$ 350
• Cartões de crédito premium oferecem cobertura gratuita em alguns casos

R$ 90 por dia parece um preço justo para alugar um carro econômico durante as férias. O problema? Essa pode ser apenas uma fração do que você pagará de verdade. Taxas de limpeza, seguros obrigatórios, cobranças administrativas e valores extras por devolução em local diferente transformam uma conta aparentemente simples numa surpresa desagradável no cartão de crédito.

O mercado de aluguel de veículos no Brasil movimentou cifras recordes em 2024, impulsionado pelo crescimento das viagens rodoviárias após a pandemia. As famosas road trips se tornaram cada vez mais comuns, com muitas pessoas optando por viajar dentro do próprio país de automóvel. Mas enquanto a liberdade de ir e vir sem depender de ônibus ou aplicativos atrai cada vez mais brasileiros, as armadilhas financeiras das locadoras também se multiplicam.

Documentação: o primeiro passo para não ter problemas

Antes de assinar qualquer contrato, certifique-se de ter em mãos a documentação correta. Para viagens nacionais, é necessário ter 21 anos, CNH válida emitida há mais de dois anos e cartão de crédito com limite suficiente para a caução. Algumas empresas aceitam motoristas entre 18 e 20 anos, porém cobram uma taxa adicional de "condutor jovem" que pode ultrapassar R$ 50 por dia.

O cartão de crédito não serve apenas para pagamento. As locadoras bloqueiam um valor como garantia — geralmente entre R$ 500 e R$ 3 mil, dependendo da categoria do veículo e do tipo de seguro contratado. Esse bloqueio pode durar de 7 a 30 dias após a devolução, comprometendo seu limite disponível. Cartões de débito raramente são aceitos para essa finalidade.

As taxas que ninguém avisa (mas todo mundo paga)

A transparência nem sempre é o forte das locadoras. Entre as cobranças mais comuns estão a taxa de limpeza, aplicada caso o carro seja devolvido em condições que exijam higienização extra, com valores entre R$ 25 e R$ 50. Mas essa é apenas uma das muitas tarifas adicionais que podem aparecer na conta final.

A chamada "taxa administrativa" causa polêmica entre consumidores. Algumas locadoras cobram 12% sobre todo o pacote de serviços contratados, inclusive sobre o valor do seguro. Embora legal, essa prática é considerada abusiva por especialistas em direito do consumidor, que argumentam que os custos operacionais da empresa deveriam estar incluídos no preço da diária.

Outra cobrança frequente é a taxa de devolução em local diferente (one-way). Dependendo da distância entre as cidades, essa tarifa varia de R$ 50 a R$ 350. Se você planeja retirar o carro em São Paulo e devolver em Florianópolis, por exemplo, esse custo adicional pode tornar toda a operação inviável.

Atrasos na devolução também pesam no bolso. As locadoras costumam oferecer uma tolerância de 29 a 59 minutos, mas após esse período, cobram uma diária completa mesmo que você tenha excedido apenas duas horas. Em alta temporada, quando os carros estão todos reservados, essa rigidez se acentua.

Vistoria: sua melhor proteção contra cobranças indevidas

É essencial fazer uma vistoria geral no veículo antes de sair para a viagem: verificar pneus, lataria e possíveis avarias, tirando fotos caso haja algo. Esse registro visual serve como evidência em disputas futuras. Fotografe todos os ângulos do carro, incluindo para-choques, laterais, capô, teto e interior dos bancos.

Confira também se o estepe está em boas condições, se o macaco e a chave de roda estão presentes, e se itens obrigatórios como triângulo de sinalização e extintor estão no veículo. A ausência desses equipamentos pode gerar multas durante a viagem — e a responsabilidade será sua. Anote o nível exato de combustível no momento da retirada para evitar discussões na devolução.

Seguros: quando economizar pode sair caro

O seguro básico contra terceiros normalmente está incluído na diária, mas oferece proteção limitada. A proteção total contra danos pode ser contratada por um adicional de R$ 15 a R$ 30 por dia. Parece caro? Considere que um pequeno arranhão na lataria pode custar mais de R$ 1.500 para reparar, valor que sairá do seu bolso sem cobertura adequada.

Para quem viaja pelo Brasil, o seguro viagem nacional pode ser uma alternativa mais econômica que os seguros oferecidos pelas locadoras. Esses planos cobrem não apenas o veículo, mas também despesas médicas, assistência mecânica e até hospedagem emergencial caso o carro quebre no meio da estrada.

Alguns cartões de crédito podem oferecer seguro para locação de carro, mas a cobertura varia de acordo com o banco emissor e os diferentes níveis oferecidos. Cartões premium como Mastercard Black e Visa Infinite geralmente incluem esse benefício, porém com limitações de prazo. Antes de recusar o seguro da locadora, consulte o guia de benefícios do seu cartão para entender exatamente o que está coberto.

Quilometragem: livre ou controlada?

A quilometragem livre oferece total liberdade para percorrer a distância que desejar sem custos extras, ideal para trajetos longos. Já a quilometragem controlada limita a quantidade de quilômetros que podem ser rodados. Para viagens curtas dentro da mesma cidade, a opção controlada pode ser mais barata. Porém, para road trips pelos estados brasileiros, o custo por quilômetro extra ultrapassa facilmente o valor da diária com quilometragem livre.

Calcule seu roteiro com antecedência usando ferramentas como Google Maps. Se pretende percorrer mais de 200 km por dia, opte sempre pela quilometragem ilimitada. Essa modalidade geralmente custa entre R$ 20 e R$ 40 a mais por dia, mas evita surpresas na devolução quando o hodômetro registrou mais quilômetros do que você imaginava.

Opcionais que podem (ou não) valer a pena

GPS, cadeirinha infantil, segundo motorista — as locadoras oferecem diversos opcionais que encarecem a conta. O GPS costuma custar cerca de R$ 20 por dia, mas aplicativos gratuitos no celular resolvem o problema com a mesma eficiência, desde que você tenha um suporte adequado e um carregador veicular.

As cadeirinhas para crianças são obrigatórias por lei e custam entre R$ 15 e R$ 20 por dia. Para viagens longas, pode ser mais econômico comprar uma cadeirinha nova e depois revendê-la ou doá-la. Todos os motoristas devem estar discriminados no contrato, pois se acontecer algum acidente e o nome do motorista não constar no aluguel, o seguro não vai cobrir nada. A taxa de motorista adicional varia entre R$ 10 e R$ 30 por dia.

O que fazer se surgirem cobranças indevidas

A cobrança de valores, como taxas administrativas, que não possuam justificativas razoáveis e coloquem o consumidor em desvantagem, é abusiva e pode ser questionada. Caso identifique cobranças não previstas no contrato original, entre em contato imediatamente com a locadora solicitando o estorno.

Mantenha todos os comprovantes, e-mails de confirmação, vouchers e principalmente o contrato assinado. Se a empresa se recusar a cancelar a cobrança, registre uma reclamação no Procon ou no site Reclame Aqui. Muitas locadoras resolvem o problema rapidamente quando a questão ganha visibilidade pública.

Multas de trânsito recebidas durante o período de locação são notificadas primeiro à locadora, que então repassa ao cliente. As empresas podem cobrar todas as multas, e o valor mais os pontos na carteira são inteiramente de responsabilidade de quem assinou o contrato. Além do valor da infração, prepare-se para pagar uma taxa administrativa que pode chegar a R$ 50 por multa.

Dicas para economizar sem perder qualidade

Reserve com antecedência. Quem reserva o carro com antecedência garante um gasto a menos e tranquilidade na hora da viagem. Os preços sobem consideravelmente durante feriados prolongados e férias escolares. Faça sua reserva com pelo menos 30 dias de antecedência para conseguir as melhores tarifas.

Compare preços em diferentes plataformas. Sites como Rentcars, Kayak e Turismocity reúnem ofertas de múltiplas locadoras, permitindo análise detalhada de custos e benefícios. Empresas tradicionais como Localiza, Movida e Unidas possuem programas de fidelidade que oferecem descontos progressivos para clientes frequentes.

Evite retirar ou devolver o carro diretamente no aeroporto. As locadoras cobram taxas extras por esse serviço, que podem representar até 30% a mais no valor total. Se possível, pegue um táxi ou transporte por aplicativo até uma agência da locadora fora do terminal aeroportuário.

Abasteça o veículo antes da devolução. Muitas locadoras exigem que o carro seja devolvido com o tanque cheio, caso contrário cobram pelo combustível a preços inflacionados. Encontre um posto próximo à agência e complete o tanque você mesmo — pode representar economia de até 50% comparado ao valor cobrado pela locadora.

Quando o aluguel realmente compensa

Nem toda viagem justifica alugar um carro. Em cidades com boa rede de transporte público e trânsito caótico como São Paulo e Rio de Janeiro, táxis e aplicativos podem ser mais práticos e econômicos. Já em destinos como a Chapada dos Veadeiros, Jalapão ou o litoral nordestino, onde as atrações ficam espalhadas e distantes umas das outras, ter um veículo próprio faz total diferença.

Vale a pena alugar quando a viagem passa por diversas cidades e o transporte entre elas é deficiente ou caro, ou se dirigir pela região permitirá uma experiência de viagem. Faça as contas: some o valor das diárias, combustível, pedágios e estacionamentos. Compare com o custo de usar transporte público, táxis ou transfers. Para viagens em grupo ou família, o carro costuma ser a opção mais vantajosa.