Os filmes nacionais mais aguardados de 2026: Prévias e bastidores

Direto ao Ponto:

• Brasil disputa vaga no Oscar 2026 com filmes premiados internacionalmente
• O Agente Secreto dominou Festival de Cannes com quatro prêmios
• Fernanda Montenegro estrela Vitória em possível último papel no cinema
• Produções nacionais ganham espaço em festivais europeus de prestígio
• Documentário sobre Gilberto Gil e dramas históricos chegam às telas

Quatro prêmios no Festival de Cannes. Estreia histórica na Palma de Ouro. Escolhido para representar o Brasil no Oscar 2026. O Agente Secreto, thriller político de Kleber Mendonça Filho protagonizado por Wagner Moura, chega aos cinemas brasileiros em novembro de 2025 como uma das produções mais celebradas da temporada. A coprodução entre Brasil, França, Alemanha e Holanda marca não apenas o retorno do ator carioca ao cinema nacional após oito anos, mas consolida a projeção internacional que as produções brasileiras vêm conquistando.

A narrativa se desenrola em Recife, durante o ano de 1977, pleno regime militar. Marcelo, um professor universitário especializado em tecnologia, retorna à cidade natal fugindo de um passado violento em São Paulo. O que deveria ser um refúgio se transforma em nova ameaça quando ele percebe estar sob vigilância constante, cercado por vizinhos espiões e perigos que ecoam os temores daquela época sombria da história brasileira.

Vitória: o possível adeus de uma lenda

Fernanda Montenegro interpreta uma idosa que documenta o crime organizado em Copacabana. Aos 92 anos durante as filmagens, a atriz entrega performance visceral que pode marcar sua despedida das telas. O longa estreou em março de 2025 e figura entre os pré-selecionados para representar o Brasil no Oscar 2026.

Baseado em fatos reais, o filme dirigido por Andrucha Waddington conta a trajetória de Dona Nina, que da janela de seu apartamento registra em fitas VHS as atividades de traficantes e policiais corruptos. A história foi inspirada em Joana Zeferino da Paz, que faleceu em 2023 aos 97 anos, depois de desmantelar um esquema criminoso que envolvia autoridades locais.

A produção enfrentou adversidades desde o início. O diretor original, Breno Silveira, faleceu durante as gravações em maio de 2022. Waddington, marido de Fernanda Torres, assumiu o projeto e levou o filme aos cinemas, onde atraiu cerca de 700 mil espectadores.

Festivais internacionais abrem portas

A presença brasileira em festivais europeus se intensifica. O Último Azul conquistou o Urso de Prata no Festival de Berlim 2025, enquanto Oeste Outra Vez acumulou múltiplos prêmios no Festival de Gramado. Ambos disputam a escolha oficial para o Oscar.

Manas, produção com mais de 20 prêmios internacionais, gerou polêmica ao mobilizar lobby empresarial durante o processo de seleção. O movimento criou debate público sobre critérios artísticos versus interesses corporativos na indicação brasileira.

Documentário e dramas históricos

Gil, Político investiga a trajetória política de Gilberto Gil, desde protestos contra a ditadura até sua atuação como ministro da Cultura na ONU. A direção fica por conta de Diógenes Muniz e Daniel Mello, com lançamento previsto para o segundo semestre de 2026.

Outro destaque é o drama inspirado em fatos reais sobre comissários de bordo que contrabandearam AZT na década de 1980, único medicamento disponível contra a AIDS quando o governo brasileiro se mostrava ineficaz no combate à epidemia. A produção retrata a urgência e solidariedade que marcaram aquele período.

Leite em Pó, dirigido por Carlos Segundo, explora a força da ausência através da história de Helena, mulher de 79 anos que toma decisão radical, mudando a vida do neto Vicente, músico que ainda tenta viver do rock clássico.

Streaming e plataformas digitais

A Amazon Prime Video confirmou a segunda temporada de Cangaço Novo, produzida pela O2 Filmes. Ubaldo e Dinorah roubam bancos para financiar serviços públicos essenciais em Cratará, desafiando o poder estabelecido. A previsão de lançamento é 2026.

Assalto à Brasileira, protagonizado por Murilo Benício e dirigido por José Eduardo Belmonte, reconstrói um dos roubos mais famosos do país. O filme acompanha jornalista que involuntariamente se envolve no assalto ao Banestado de Londrina, realizado em 1987.

Audiência e bilheteria

O Agente Secreto arrecadou R$ 590 mil em pré-estreia, atraindo 24,5 mil pessoas para cerca de 250 cinemas em 76 cidades. A primeira sessão pública em São Paulo lotou sala com 600 lugares na Cinemateca Brasileira, com filas formadas duas horas antes da exibição.

Kleber Mendonça Filho recebeu prêmio no Critics Choice Celebration of Latino Cinema & Television, onde a organização o classificou como diretor visionário. Em seu discurso, o cineasta dedicou a honraria a Wagner Moura e ressaltou a importância da cobertura cultural da imprensa.

Financiamento e coprodução

O Agente Secreto contou com recursos do Fundo Setorial do Audiovisual, vinculado à Ancine, com apoio do Ministério da Cultura. O diretor destacou que fazer a cultura se expressar artisticamente faz parte do que uma nação significa, defendendo o financiamento público para o setor.

A coprodução internacional permite que filmes brasileiros circulem com mais força no mercado externo. Nos Estados Unidos e Canadá, O Agente Secreto terá distribuição da Neon, enquanto na França o lançamento está previsto para janeiro de 2026 pela Ad Vitam Distribution.

O cenário para 2026 mostra que o cinema brasileiro não apenas se mantém relevante, mas conquista espaço crescente em festivais e premiações de prestígio. Com histórias que transitam entre dramas históricos, documentários políticos e narrativas de resistência, as produções nacionais carregam a responsabilidade de manter acesa a chama que Ainda Estou Aqui acendeu no Oscar 2025. Resta acompanhar se algum desses títulos repetirá a façanha histórica da estatueta dourada.